Epitáfio
Devia ter amado mais, ter chorado mais
Ter visto o sol nascer
Devia ter arriscado mais e até errado mais
Ter feito o que eu queria fazer
Queria ter aceitado as pessoas como elas são
Cada um sabe a alegria e a dor que traz no coração
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar distraído
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar...
Devia ter complicado menos, trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr
Devia ter me importado menos com problemas pequenos
Ter morrido de amor
Queria ter aceitado a vida como ela é
A cada um cabe alegrias e a tristeza que vier
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar distraído
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar...
Devia ter complicado menos
Trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr
In: TITÃS. A melhor banda de todos os tempos da última senana. 2001.
LEMBRANÇA DE MORRERÁlvares de Azevedo
Quando em meu peito rebentar-se a fibra,
Que o espírito enlaça à dor vivente,
Não derramem por mim nem uma lágrima
Em pálpebra demente.
E nem desfolhem na matéria impura
A flor do vale que adormece ao vento:
Não quero que uma nota de alegria
Se cale por meu triste passamento.
Eu deixo a vida como deixa o tédio
Do deserto o poento caminheiro...
Como as horas de um longo pesadelo
Que se desfaz ao dobre de um sineiro...
Como o desterro de minh’alma errante,
Onde fogo insensato a consumia,
Só levo uma saudade — é desses tempos
Que amorosa ilusão embelecia.
Só levo uma saudade — e dessas sombras
Que eu sentia velar nas noites minhas...
E de ti, ó minha mãe! pobre coitada
Que por minhas tristezas te definhas!
De meu pai... de meus únicos amigos,
Poucos, — bem poucos! e que não zombavam
Quando, em noites de febre endoudecido,
Minhas pálidas crenças duvidavam.
Se uma lágrima as pálpebras me inunda,
Se um suspiro nos seios treme ainda,
É pela virgem que sonhei!... que nunca
Aos lábios me encostou a face linda!
Ó tu, que à mocidade sonhadora
Do pálido poeta deste flores...
Se vivi... foi por ti! e de esperança
De na vida gozar de teus amores.
Beijarei a verdade santa e nua,
Verei cristalizar-se o sonho amigo...
Ó minha virgem dos errantes sonhos,
Filha do céu! eu vou amar contigo!
Descansem o meu leito solitário
Na floresta dos homens esquecida,
À sombra de uma cruz! e escrevam nela:
— Foi poeta, sonhou e amou na vida. —
Sombras do vale, noites da montanha,
Que minh’alma cantou e amava tanto,
Protejei o meu corpo abandonado,
E no silêncio derramai-lhe um canto!
Mas quando preludia ave d’aurora
E quando, à meia-noite, o céu repousa,
Arvoredos do bosque, abri as ramas...
Deixai a lua pratear-me a lousa!
AZEVEDO,Álvares de. Poesias completas. Rio de Janeiro. Ediouro. 1996.p. 37-8. (Coleção Prestígio).
RESPONDA
1 - Álvares de Azevedo é representante do Ultra-Romantismo brasileiro. Que características do poema lido justificam essa afirmativa?
2 - De quem o poeta confessa que sentirá saudades quando morrer?
3 - Epitáfio é uma inscrição que se coloca sobre o túmulo. Localize no texto o epitáfio que o
poeta solicita para si.
4 - Geralmente, o artista é porta-voz do seu tempo. Em grupo, comparem o poema lido com a letra da música "Epitáfio", de Sérgio Britto, transcrita acima. Apontem diferenças e semelhanças, tentando identificar em que medida os textos são influenciados pela época em que foram escritos.
Sucesso!!
Um comentário:
1) Se uma lagrima as pálpebras me inunda, se um suspiro nos seios treme ainda, é pela virgem que sonhei!...que nunca aos labios me encostei a face linda.
2)leva saudades de sua mãe.
3)A sombra de uma cruz!e escrevam nela foi poeta, sonhou e amou.
4)Pelo sentimento a solidão a tristeza e a saudade.
A diferença é que Epitafio não viveu, o que devia ter vivido.
E Alvares de azevedo viveu, pouco mas viveu.
E a semelhança é que eles sentem saudades.
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